A cauda da Europa
Ivo Saraiva e Silva
Para estas pessoas, todos os dias são o mesmo dia. E o dia vai sempre a meio. Quer-se começar e vai-se sempre a meio de alguma coisa, de uma História, de um movimento, a meio de um trajeto, no meio do nada, a meio de um jantar familiar alternativo. Todos têm idades idênticas e conservam-se jovens. Ainda. O pior é que o lugar está a abarrotar de gente e, por mais que se esforcem, nunca há espaço suficiente para tanto ser vivo. Sinal dos tempos, pegada do sistema. O que é que se faz a tantas pessoas, como é que se lida com tanta juventude? Entretanto, há mais a chegar e começa a ficar apertado existir. A casa fica pelas costuras, sua. E isso é um problema. Mas ter um problema é ótimo. Nesta idade, é ótimo! Basta escolher qual o problema mais favorável para resolver. Ou a melhor maneira de os arranjar, já que aqui os problemas são inevitáveis. É preciso escancarar, adicionar divisões à casa, aumentar dimensões. Pode ser que aí se amplie o horizonte. Pode ser que aí já caiba toda a gente. Talvez seja preciso uma invenção: chamaram-lhe Cauda da Europa. Um grito de transformação, neste sarilho que é o espaço comum onde o Tuga habita.
Ivo Saraiva e Silva (n. 1991) é um dos fundadores da companhia de teatro SillySeason, onde cumpre as funções de diretor artístico, encenador, ator e dramaturgo. É mestre em Comunicação e Artes pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, licenciado em Teatro, no ramo de Dramaturgia, pela Escola Superior de Teatro e Cinema e finalizou o curso profissional de interpretação do Balleteatro. Destacam-se os trabalhos em Sonho de Uma Noite de Verão (2010, do Teatro Praga); em A Flor do Cato (2011, de Filipe La Féria); em A Morte de Danton (2012, de Jorge Silva Melo); em Cabul (2016, de Rui Horta); em Palhaço Rico fode Palhaço Pobre (2017, de João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira); em Cisnógrafo (2017, de Luiz L. Antunes); e na ópera Peter Grimes (2017, de David Allen). Como SillySeason, venceu o prémio de melhor curta-metragem portuguesa do Festival Queer Lisboa 18 com a obra Frei Luís de Sousa (2014). Recentemente, encenou para a RTP a peça Dolls (2019). O seu primeiro texto publicado, Castro (2021), está inserido no volume Cartografia da Nova Dramaturgia Portuguesa, pelo Teatro Nova Europa, edição da Húmus. Colaborou com Ricardo Cabaça num projeto de reescrita da Odisseia de Homero (2020), e foi dramaturgista do solo Insólido de Sérgio Diogo Matias (2019). Participou como dramaturgo convidado no projeto DraMITurga, no Festival MIT Ribadavia, na Galiza (2021). Em 2022, publica o texto Pigmalião na editora Húmus, sendo uma das obras escolhidas para as Leituras No Mosteiro do Teatro Nacional de São João (Porto) desse ano. Brevemente, publicará sete peças curtas nas Edições Positivas, da Galiza. Participou na série Regresso a Ítaca, realizada por Ricardo Cabaça para a RTP. Foi professor convidado para encenar o espetáculo final do Festival SET 2019 e orientou um seminário de teatro na ESAP – Escola Superior Artística do Porto, em 2023. Dirigiu, com Pedro Penim, o último projeto-escolas do Maria Matos Teatro Municipal, Hoje é o dia (2018), em colaboração com a Escola Secundária D. Filipa de Lencastre. Tem vindo a lecionar teatro em escolas do ensino básico e secundário e desenvolvido projetos comunitários com a Universidade Sénior de Amarante. Foi crítico do FATAL (2012) e, recentemente, tem vindo a assinar textos na secção Opinião do jornal Notícias do Tâmega de Amarante e na plataforma CoffeePaste.