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A Saída

Tiago Sarmento - Balleteatro | Festival FITEI’23

Quando é que um sítio se transforma num lugar? Quando é que um lugar se transforma numa casa? A Saída é um retrato sobre a ausência de um lar e a cultura de consumo nocivo de álcool e drogas, enraizada na geração Z. A velocidade do mundo moderno, a instabilidade financeira e emocional, os planos incertos para o futuro, os sonhos, o deslumbre pela fama e pelas redes socais, a habitação nómada, a sexualidade, as relações descartáveis e a ansiedade compensada por vícios. Emma é uma atriz que vive no auge da juventude e no prelúdio da ascendente carreira. A incapacidade de lidar com a morte do irmão, leva-a a afastar-se da família. Após colapsar em palco, fica impedida de voltar a trabalhar até completar o programa de uma clínica de reabilitação. Emma não está assustada. Sabe que a verdade tem muitas caras.

“Numa peça recebes instruções. Direções de cena. Alguém veste-te. Diz-te quando e onde deves estar. Vives os momentos mais intensos de uma personagem, repetidamente, sem nunca te entediares. E ensaias aquilo. Durante semanas. És aplaudida. Voltas a trocar de roupa. Apanhas o autocarro. E voltas à tua vida normal. Com todas as coisas chatas que deixaste para trás. E esperas. Acabas por arranjar um part time. Atendes telefones e serves às mesas. Tudo sem contrato. Sem nunca conseguir planear o futuro. Mas continuas, porque às vezes, se tiveres mesmo sorte, voltas a palco e dizes coisas que são absolutamente verdadeiras, mesmo que sejam inventadas. Vives momentos que te parecem mais reais e mais autênticos do que qualquer outra coisa na tua vida. Dizes poesia, palavras que nunca pensaste dizer, mas que se tornam tuas à medida que falas. A Lydia quer que eu admita um trauma enterrado dentro de mim, mas não tenho nenhum. Fiz a Antígona e todas as noites o meu coração despedaçava-se com a morte do irmão dela. E quando o meu irmão morreu, não senti nada. Faltei ao funeral porque tinha uma matiné. Eu não estou a evitar falar no grupo porque tenho algo a esconder. É o oposto. Se não estou em personagem, não tenho a certeza que estou realmente cá. Estou morta por dentro. Representar dá-me a mesma adrenalina que as drogas e o álcool. Bons papéis são apenas mais difíceis de encontrar… Eu tenho mesmo… mesmo saudades do meu irmão.”


TIAGO SARMENTO nasceu em 1993, no Porto. É ator, autor e encenador. Estudou artes plásticas na Escola Artística de Soares dos Reis. Em 2014, licenciou-se em Teatro, na vertente de Ator, na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo. No âmbito do programa Erasmus frequentou a Northumbria University, em Newcastle. Em 2015, concluiu o mestrado em Theatre Directing na East 15 Acting School, em Londres, e frequentou um curso intensivo na GITIS, em Moscovo.

Integrou elencos de peças dirigidas por Marco Martins, Nuno Cardoso, Nuno Carinhas, Carlos Pimenta, Beatriz Batarda, Mark Calvert, Emma Roxburgh, João Pedro Vaz, Nuno M. Cardoso, Whit Hertford, George Siena, Lígia Roque, Lee Beagley, Nuno Nunes, Tales Frey, Nuno Pino Custódio e Sónia Barbosa. Em ecrã, integrou projectos de Patrícia Sequeira, Joaquim Leitão, Pedro Ribeiro, António Pinhão Botelho, Fanny Ardant, Ana Moreira, Miguel Magalhães e Ricardo Leite.

Realizou as curtas metragens Cold Hands e Beatrice. Encenou os espectáculos #Falling (The Yard Theatre), A Vertigem dos Nossos Corpos (FITEI), Welcome e Parque Infantil (TMP), Orelha de Deus e Liceu Europa (Coliseu do Porto) Sem Rede (Mala Voadora). É criador e ator da série original de ficção da RTP1, Capitães do Açúcar. É um dos atores selecionados para o programa Passaporte, da Academia Portuguesa de Cinema. Colabora ativamente com a Escola Balleteatro, desde 2019
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