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As portas são um conhecido dispositivo cómico usado com fartura na tradicional comédia, com expoentes em Beaumarchais, por exemplo. Entrar e sair em alturas erradas, meter a pata na poça, ver o que não se devia ou esconder-se atrás de um cortinado. Entretanto perderam-se as casas. Ou abriram-se. Nos espetáculos que normalmente faço com o Teatro Praga não há delimitações, paredes de cena ou portas construídas, janelas, essas coisas. E por isso a comédia de portas pode saltar para a comédia de identidades: um ator que é tantos nomes que entra e sai dos nomes como quem entra e sai por portas. É este o dispositivo cómico de TERCEIRA IDADE. A que se junta uma ideia saída do argumento de uma peça de Marivaux, Atores de boa fé (1757): Uma companhia de teatro é contratada para representar uma comédia a fim de celebrar um casamento, mas a dona da casa (a sogra), por razões de moral, não autoriza. Quem os contratou promete que não só haverá comédia como será a dona da casa protagonista do espetáculo sem o saber.?Rodando TERCEIRA IDADE à volta do “Quem sou eu?”, nada melhor que um ator que não sabe que está a ser ator como dilema sem solução, numa espiral de matriochcas propensa a lutas pela “personagem”, pela pessoa, pelo sujeito e por todas essas identidades presentes num espetáculo. ? São quatro personagens que antes de começarem já se reformaram. Relembram os tempos das batalhas, roubando memórias aos filmes de guerras em selvas vietnâmicas e cidades em estado de sítio, e protestam por uma reforma condigna. Gente com passado, que apresenta rugas onde não as vemos. O horizonte mais próximo é a morte, mas a melancolia é comédia e o desespero gargalhada. Às vezes parecem saídos de filmes de veteranos como RED, MERCENÁRIOS ou o último ROCKY, em que um conjunto de glórias dos filmes de ação (Bruce Willis, Morgan Freeman, Sylvester Stallone, Mickey Rourke…) se voltam a juntar para uma última missão. Como se o filme fosse eternamente o mesmo. E esta imobilidade nos aliviasse da idade. Somos novos e velhos, somos actores e personagens, entramos e saímos sem sair do mesmo sítio. Não é isto a comédia?
Ana Deus e João Sousa Cardoso desenvolvem um trabalho de criação performativa em torno das várias modalidades da palavra e da oralidade na sociedade portuguesa contemporânea. O espectáculo estreou em Outubro de 2012.
Na continuação do trabalho desenvolvido com a apresentação da peça "Mazezam", Catarina Miranda e o Colectivo Flocks&Shoals encontram-se de novo no Balleteatro, no sentido de aprofundar um estudo cénico sobre estados intermediários de percepção, com base no estudo de movimento coreográfico da dança coreana "salpuri" (contextualizada na sua origem enquanto evento de limpeza e extracção).  O espaço cénico organiza-se enquanto local intersticial,  simultaneamente estagnado no tempo,  condensando em si,  um laço de fluídos, em movimento perpétuo. Uma colaboração de Antje Schmidt, Catarina Miranda, Daniela Schmidtke, Miranda Markgraf, Roger Russell e Rosabel Huguet.
Tipologia: The Black Path Residência artística e produção

Autoria/responsável artístico
Lina Limosani (coreógrafo convidado)

Equipa artística e técnica
Direcção: Lina Limosani
Intérpretes: alunos do 2º ano do curso de dança do balleteatro escola profissional
Assistente de projecto : Márcio Ferreira
Direcção Técnica: Alexandre Viera
Produção: balleteatro
Registo fotográfico e vídeo: Susana Andrez

Calendarização
De 16 a 29 Abril
Apresentações: 26 a 28 Abril | 21h30 (público geral)
                        29 Abril 16h00
 
Espaço:
Balleteatro , Porto