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A Invenção do Amor

No âmbito do 40º aniversário do Festival de Poesia e Música de Vila Nova de Foz Côa

23 Abr / 18h30
Centro Cultural de Vila Nova de foz Côa

A "Invenção do Amor" parte de uma microestrutura diegética, contando a perseguição movida pela cidade contra dois infratores da ordem e da rotina, dois amantes que, pelo simples facto de se amarem, colocam "em jogo a cidade / o país, a civilização do ocidente". O perigo de contaminação pelo amor reside na capacidade que o amor possui de desencadear a reflexão e a consciencialização sobre a condição humana ("Se um homem de repente interromper as pesquisas / e perguntar quem é e o que faz ali de armas na mão / já sabeis o que tendes a fazer Matai-o Amigo irmão que seja"), de promover a descoberta de uma existência movida por valores essenciais: "Alguém que os escutou / deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas / E quando foi interrogado em tribunal de Guerra / respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz / Lhe lembravam a infância / Campos verdes floridos / Água simples correndo / A brisa das montanhas." Sob o modelo de Éluard, poeta do amor e do combate, evocado numa epígrafe que abre e fecha o poema, enquanto nota de esperança que espera "au bout du chagrin une fenêtre ouverte / une fenêtre eclairée", a urgência da mensagem reiterada no poema, sob a forma de antífrase, a da urgência do amor, é construída a partir de um discurso fortemente exortativo, apelativo, anafórico, que lança mão de todos os recursos retóricos para conseguir a persuasão dos destinatários. A poesia de "A Invenção do Amor" é, assim, "inevitavelmente retórica, porque não existe na cidade a experiência autêntica do amor que Daniel Filipe se obriga a inventar. E então há que forçar a entoação das palavras, enfatizá-las, repeti-las, numa tentativa de violentar o real e impor nele o projeto do poeta." (ESPADINHA, Francisco - "Nota sobre A Invenção do Amor", in A Invenção do Amor e Outros Poemas, 6.a ed., Lisboa, 1983, p. 14).

É este texto de Daniel Filipe que o Balleteatro escolheu para assinalar o 25 de abril no Festival de Poesia e Música de Vila Nova de Foz Côa, não só pela sua dimensão poética e distópica de uma sociedade opressora como a que o 25 de abril veio a derrubar. Em 2025, assinalar-se-ão 100 do nascimento deste poeta perseguido e torturado pela PIDE e que faleceu aos 39 anos num quarto de hospital, vigiado por 2 agentes da PIDE-DGS que tinham ordem de o encarcerar caso sobrevivesse à maleita. Neste tempo de regresso dos extremismos, este "A Invenção do Amor" torna-se de novo um texto de combate e resistência.

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