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woman projecting images with a light box

Mnemónica

Plataforma de coordenação e edição de conteúdos produzidos para documentação e reflexão crítica.
A constituição deste espaço digital propõe-se como uma expansão discursiva dos nossos ciclos de curadoria e projetos de artistas residentes e associados, organizando e difundindo processos mnemónicos, privilegiando a heterogeneidade e multidimensionalidade do pensar contemporâneo através de contributos por teóricos, artistas, estudantes e públicos.

Projeções é um ciclo de apresentação de trabalhos de artistas emergentes e futuros criadores.
O objetivo é apoiar estes artistas na criação e divulgação dos seus projetos.
Equipa de seleção: Ivo Saraiva e Jorge Gonçalves

Dustbusters
Cochon de Cauchemar

Neptunina
Maria R Soares

SOS

Vera Santana

ou sonho ou chove

Margarida Queirós

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composição | arar o solo com derivas e mistérios
Flávio Rodrigues

Como elementos preambulares, recorro a quatro folhas brancas quadradas, separadas por uma pequena margem, onde repousam objetos e materiais encontrados em caminhadas por ruas e praias, bem como em visitas a casas e fábricas abandonadas. Ao longo do processo, os materiais que foram, digamos, marcando presença, destacam-se por sua característica fragmentada, como, por exemplo, materiais arenosos.

Inicialmente, o que me interessou foi recolher essas materialidades associadas a uma ideia de natureza — extraídas e colocadas em contextos de construção, como uma casa, por exemplo, que se desmoronou, deixando esses elementos deslocados de seu ponto de origem, negligenciados e desprovidos de funcionalidade. No estúdio, esses materiais, através de uma dinâmica de afeto, são cuidadosamente tratados, alojados e reparados como elementos fulcrais, resgatando-lhes e atribuindo-lhes novas potencialidades, significações e virtualidades.

A edificação que se ergue sobre e entre as folhas emerge de maneira semelhante e em continuidade com criações anteriores, originando-se de práticas experimentais e intuitivas, sendo processual na sua construção e reflexão, com um caráter performativo e resultando em um dispositivo expositivo.

 

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Extemporânea é um projeto de curadoria colaborativa, que consiste no desenvolvimento de um programa de performances e/ou instalações performativas, a decorrer durante dois dias e com uma periodicidade anual, em que os artistas são convocados a articularem as suas práticas artísticas com a conjuntura social, económica e política, inerentes ao local de cada edição. A conceptualização do programa Extemporânea propõe uma expansão das noções de coreografia e de performatividade, a diferentes contextos sociais e geográficos na cidade do Porto. Com um pensamento crítico e discursivo, convidamos artistas a experimentarem diferentes formatos de apresentação e modos de recepção da audiência, no que concerne à experiência espácio-temporal e ao espectro de possibilidades entre a participação e a contemplação do próprio público. 

A segunda edição de Extemporânea decorre nos dias 15 e 16 de Junho de 2024 e desdobra-se num programa de performances, concertos e audio walks, concebidos especificamente para o Centro Empresarial da antiga fábrica Dunil. Este complexo industrial, lugar de uma importante fábrica de camisas do século XX, apresenta-se atualmente reabilitado mas mantém uma série de elementos e marcas da sua história. A temporalidade suspensa, e em simultâneo, a sua abertura a novas atividades fabris, abre este espaço a diferentes dimensões, entre o que foi e o que aí vem, o que permanece e o que desaparece. A tipologia destes espaços industriais, que adquirem novas funções, mantendo a anterior disposição arquitectónica, evidenciam a tensão entre os diferentes estratos da memória, colocando-nos diante de um espectro das mecânicas imateriais das relações de esforço do corpo consigo próprio, com os objetos, máquinas, entidades concretas e abstratas. Como espaço liminar, ocupamos provisoriamente a antiga fábrica Dunil, com propostas artísticas que equacionam uma série de modos de ativação e escuta performativa, que se posicionam entre a imaginação arqueológica do passado e a projeção de futuros visionários.

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Na intersecção da performance e media art que Né Barros e João Martinho Moura têm desenvolvido trabalho onde a presença, a memória e duplicação de universos se articulam em narrativas alternativas. EDNI é a expressão, de João Martinho Moura, para um Espaço Denso e Não Ilimitado e que, neste projeto, se apresenta como um campo magnético e onde a IA transforma imagens de duas mulheres: o corpo produtor de um movimento inicial e o corpo do movimento reinterpretado.

 

No palco há um pêndulo gigante, magnético, que orienta e atrai e que juntamente com a performer traduz esse espaço limitado e denso. Ali, o gesto testa forças, joga-se a atração e as distâncias entre os corpos. Estamos perante um lugar material e que segue, naturalmente, leis físicas. É em diálogo com este lugar simultaneamente físico e ficcional que surgem projeções de imagens, no limite da sua distorção, de mulheres que nos convocam uma serenidade e suspensão de uma memória de um corpo matricial e sensual. Estes corpos desvelam uma condição da mulher como imagens trans-temporais. EDNI é um espetáculo híbrido onde o corpo performático, as imagens projetadas e um pêndulo materializam um campo magnético e uma relação poética entre as três entidades. Edni conta com cenografia do coletivo FAHR 021.3 e performance de Vivien Ingrams e é uma coprodução com o Teatro Aveirense no âmbito da Capital Nacional da Cultura.

Duplo

Imagem. Pêndulo. Corpo. Mulher. Neste espaço ficcional, imagens de duas mulheres transformam-se, mutam-se. Movimento-matriz e movimento-representação. Dois corpos convocam passado, presente, futuro. Movimento matriz do corpo ausente, o autor e a memória. O corpo presente, o performer e o lugar futuro. No fundo, partículas num Espaço Denso Não Ilimitado (EDNI). Matéria que interrompe e determina. História que podia dizer de uma condição da mulher. Por momentos, uma boca que se abre a uma voz muda. Fala de si, mas nada se ouve. Corpo, bicho, carne e pele que esconde a cor do sangue e que as imagens misturam e projetam um corpo mutante, sereno e inquietante. Como se tudo estivesse sob controle. Matéria que nada diz, move-se num tempo, interrompe o tempo. O pêndulo assinala o tempo e o lugar, lembra o nosso limite. Nele giramos. — Né Barros

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Integrado num festival internacional de cinema sobre arquivo, memória e etnografia, o Family Film Project, este evento pretende desafiar artistas e teóricos a explorarem a performatividade a partir de material ou conceitos de arquivo pessoal ou de terceiros. À medida que as intimidades e familiaridades são problematizadas, projetam-se possibilidades criativas que cruzam disciplinas e fronteiras, reforçando, dentro do evento-festival, a ténue linha entre a vida real e a ficção. Para esta edição, o Private Collection será dedicado ao pensamento de Foucault. A intenção é apresentar um conjunto de propostas performativas nos seus valores expandidos (interdisciplinaridade, deslocamentos espaciais, deslocamentos temáticos) capazes de dialogar com algumas das noções centrais de Foucault. O arquivo pressupõe o arquivista, mas como um “arqueólogo” que não busca conceitos gerais e abstratos, mas os analisa num jogo de aparecimento e deslocamento. O arquivo não é criado por um sujeito de conhecimento, mas sim nas múltiplas teias entre práticas culturais, sociais, políticas, económicas, subjetivas e históricas. O arquivo também informa sobre essa transformação, e os modelos adotados, uma vez identificados, adicionam mais significado. Narrativa e ficção entrelaçam- se porque a trama é densa e resiste à leitura. Ao mesmo tempo que a performance afirma a sua radical efemeridade, cresce a demanda por documentar e arquivar as suas práticas em nome da pesquisa e historiografia da performance. O Private Collection questionará, no entanto, a relação da performance com o arquivo. Esta relação pode incluir o papel da performance na cultura do arquivo e o papel do arquivo nas conceptualizações da performance; o futuro da performance e do arquivo na era digital; o papel do documento na pesquisa sobre performance; e as práticas de arquivos de performers.
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Corpo + Cidade nasceu em 2014, ano em que o balleteatro foi habitar o 5.o piso do edifício Axa. Ao longo dos anos, como parte integrante do seu projeto, o Balleteatro produziu ciclos e festivais que contribuíram para a divulgação e partilha de projetos que inscreviam a contemporaneidade. Corpo + Cidade, surge nesse pulsar da vida e da arte que pode atravessar o quotidiano. No edifício Axa — com vista para a Avenida dos Aliados, o chamado coração da cidade — emergiu, portanto, a vontade de refletir essa cidade, de a contaminar artisticamente, projetando corpos dançantes e fazedores de imagens, apagando a linha que separa o público e o performer.

 

Idealizamos entrar na corrente do dia-a-dia dos transeuntes e, de algum modo, fazer abrandar, provocar, alegrar e fruir da dinâmica e da fluidez que é o espaço público.

 

O olhar sobre a Avenida, e seu movimento, a partir daquele espaço/ casa, impulsionou a criação de um Festival para o espaço público. Corpo + Cidade propôs-se participar na reinvenção da cidade, possibilitando novas experiências urbanas, cruzando a dança contemporânea, as danças urbanas, a performance, o circo contemporâneo, a música e as artes plásticas.

 

Em 2016, Corpo + Cidade uniu forças ao DDD – Festival Dias da Dança, passando a apresentar as suas propostas de programação para espaço público, neste grande festival internacional de dança contemporânea, organizado pelo Departamento de Artes Performativas da Ágora - Cultura esporto E.M., Câmara Municipal do Porto, co organizado pela Câmara Municipal de Matosinhos e pela Câmara Municipal de Gaia. A partir da Avenida dos Aliados, onde se ativaram propostas de Ricardo Ambrósio ou Ana Ulisses, ramificaram-se outros lugares: o exterior das estações de metro e de comboio com Joana Von Mayer Trindade; o Jardim do Carregal com Gabriela Vaz Pinheiro; o Jardim do Morro (Vila Nova de Gaia) com Bruno Senune, Sara Marques & Alice Bonazzi ou Lígia Soares; o Jardim de São Lázaro com Pedro Prazeres; os Jardins do Palácio de Cristal com Charlotte Spencer; a Praça D. João I com Isabel Barros & Vítor Rua, Momentum Crew ou La Horde; e a Casa da Arquitetura (Matosinhos) com Jean Baptiste-André, para além de outros espaços, não menos desafiantes, e com tantos outros artistas que brindaram o público com múltiplas e fascinantes propostas.

 

Corpo + Cidade habitou igualmente, até agora, lugares menos expostos à relação interior/exterior, sempre que as propostas visavam debater e conferenciar a arte pública e o site-specific. Foi o caso, por exemplo, dos projetos de Maria Belo Costa e de Carlos Zíngaro, com Cecilia Bengolea, François Chaignaud e Ana Pi em Le Tour Des Danses Urbaines En Dix Villes, ou com Né Barros e a sua conferência intitulada O lugar do Corpo. Houve também espaço para propostas de palco - estas mais raras –, que, de algum modo, refletiam e tomavam a rua e as suas danças vivificas enquanto base de pensamento e de exploração, como aconteceu com a peça de Bouziane Bouteldja. Em 2019, quase numa premonição, Daniel Pinheiro e Lisa Parra, com Mediated Motion/Land Project, quebraram as barreiras da distância física, nutrindo uma apresentação que recorreu ao online.

 

Em 2020, o Corpo + Cidade foi cancelado devido ao contexto pandêmico. Em 2021, ainda por questões associadas à pandemia, todos os projetos respiraram ao ar livre, mantendo o conceito de criações em espaço público, mas a transmissão aconteceu nesta esfera tão presente nas nossas vidas: a Internet. Ana Renata Polónia e Marta Ramos, por exemplo, deram-nos a vista para o mar, partindo da Marginal de Matosinhos. Sara Marasso e Stefano Risso fizeram-nos imaginar uma caminhada por Lisboa e Turim.

 

Mais do que um programa de escolhas, Corpo + Cidade completa-se e acontece através de afinidades e de respostas a motivações de artistas que imaginam as suas criações em lugares menos comuns ou habituais. Corpo + Cidade pretende ser um encontro entre criadores, espaços (por onde o sol, o vento e a chuva nos abracem) e as suas comunidades – uma tríade em que acreditamos e que queremos que, com a experimentação e passagem do tempo, nos permita crescer e fortalecer no território daquilo a que, com tanto respeito e dedicação, chamamos Arte. A essência de Corpo + Cidade, performance em espaço público, regressa na edição 2024, com uma diversidade de propostas/artistas, que vão habitar espaços das três cidades, Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia, regressando à aproximação natural às pessoas, num gesto consciente de convite a essa experiência de participação e de vivência de cidade.

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