SEGUNDO PLANO
TERMO RECORRENTE DA LINGUAGEM CINEMÁTICA E FOTOGRÁFICA, SEGUNDO PLANO COLOCA-NOS SOBRETUDO QUESTÕES DE HIERARQUIA NA PRECEPÇÃO E DE CONSTRUÇÃO DE SENTIDO DO OBSERVADO.
Estou a pensar no punctum do Roland Barthes e naquilo que irrompe na imagem e na acção e nos atinge, sobrepõe-se a outros aspectos e dirige o modo como o sentimento se forma. Estou a pensar ao género de um palimpsesto onde escritas se acumulam e se sobrepõem no corpo e nas acções. Estou a pensar numa espécie de magma formado por múltiplos e plurais sons, imagens e acções que no seu simultâneo constituem uma realidade que não sendo primeiro plano também não são fundo. Logo no início do espectáculo surgem estas matérias sonoras e visuais que figuram a nossa realidade de todos os dias: uma voz ao fundo, uma zona branca sem protagonista, uma passerelle sem modelos, sons de chaves e ruídos de quem estar a montar coisas... Desta confluência e concorrência de planos construímos as nossas histórias e a nossa realidade. Este projecto foca-se nas linhas e nas zonas de ambiguidade entre primeiro e segundo plano, na ordem de importância entre as coisas, no desnível de planos e de como desta condição se constroem micro narrativas. Interessou-me contudo, que tudo isto se passasse não numa fragmentação radical ou na rejeição de uma macro narrativa, mas na vontade que por ali paire uma história. Como uma história desfocada. No fim tudo é ficção.