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Esta hora de espanto

Para Esta hora de espanto, escreve Tiago Mesquita Carvalho: “Passa caudaloso o rio da história e nele todos mergulham para chegarem lá onde ele leva. O velho mundo ainda se encharca dos últimos raios do poente e embora as palavras cantem, a ruína cresce, a noite avança.”

Esta peça em tom de coreodrama, retoma o corpo como e na paisagem, algo que percorre muito do meu trabalho, para convocar imagens limite e radicais sobre um futuro previsível de catástrofe. É, também, a paisagem no limite da sua transformação que nos interessa, em particular, no radical das catástrofes e do apocalítico. Em Lastro (2015), sob um céu estranho, os corpos iam ocupando um lugar gerando a sua rotina e as suas ligações. Nessa peça coreográfica, os movimentos dos corpos juntamente com o dispositivo cénico, criavam o lugar teatral: um lugar em mudança, um lugar que é feito de memória. Em Esta hora de espanto algumas destas noções voltam a ser materializadas através do corpo e do texto, uma ficção escrita por Tiago Mesquita Carvalho. A partir das imagens das catástrofes, retomam-se as questões do corpo e dos seus limites, da figuração e desfiguração na dança. O medo, uma vã compreensão das coisas, a imprevisibilidade, a radicalidade das catástrofes, pairam neste conto onde os personagens se vão revelando e destruindo.

Né Barros