Performances no contemporâneo
5ª EDIÇÃO - PROJETO DE INVESTIGAÇÃO/CICLO DE SEMINÁRIOS
FLUP – Sala de Reuniões (2º Piso)
Performances no Contemporâneo
Filosofia e Artes
Performances no Contemporâneo é um projeto de investigação – realizado em regime de laboratório e de encontros de pensamento – cujo objetivo é reunir um conjunto de vozes e abordagens na performance e nas artes performativas enquanto cúmplices e portadoras de uma política do contemporâneo. No território expandido da performance e da performatividade, as margens, o movimento, a mobilização, a paisagem, o arquivo, o discurso e diversas estratégias de comando e de destruição são matérias emergentes a um debate sobre um corpo potencial e um corpo político.
Na interceção entre prática e teoria, este projeto, criado em 2015, tem como finalidade o questionamento da condição do contemporâneo e a criação de um corpus de eventos que documentem o trabalho desenvolvido num espaço de pensamento tensional entre a filosofia e as artes. Na relação paradoxal de adesão e distanciação ao real, na visibilidade e na invisibilidade, na luz e na escuridão — como refere Giorgio Agamben a propósito da contemporaneidade enquanto relação singular com o tempo — as performances surgem, também elas, como projetos singulares de mundos marginais e formas de resistência.
Interessa-nos um modo de pensamento contemporâneo à voz da primeira pessoa, ao corpo falante da arte, para usar uma expressão de Mário Perniola. Interessam-nos os discursos diretos dos que produzem as obras, assim como os discursos dos que pensam e interferem com a arte.
3 de Novembro
Emídio Agra
Gabriela Vaz-Pinheiro
Jorge Palinhos
Rossana Fonseca
FLUP – Sala de Reuniões (2º Piso) / Anfiteatro Nobre
Instituto de Filosofia | Universidade do Porto
Jardin des Oiseaux
Emídio Agra
Neste ciclo Performances no Contemporâneo, irei apresentar um conjunto de vídeos, realizados por Ana Pissarra e José Nascimento, a partir da minha obra — uma constelação de objetos intitulada Jardin des Oiseaux, constituída por um mundo envelhecido, descartado, um mundo de coisas quebradas, despojos, fragmentos do quotidiano, que se vão transformando e reconstruindo. Trata-se de ler a história através da própria caducidade, de um passado silenciado que fala pela sua própria voz, revelando uma débil esperança, uma fugaz imagem de felicidade no seio de um mundo sem esperança.
Objetos que pedem que nos concentremos nos detalhes, nos pontos cegos, onde o tema não coincide com o conteúdo e o conteúdo não coincide com uma filosofia injetada desde o exterior, onde o inintencional revela o múltiplo, o não idêntico, corroendo o que se esgota em significações imediatas. Mais do que simbólicos, estes objetos são alegóricos. Neles, cada elemento vale por si mesmo. Mostram as suas fissuras, não um todo orgânico. Trata-se de objetos, como diria T. W. Adorno, que se apresentam como um “hieróglifo cuja chave se perdeu.”
Emídio Agra é artista plástico, doutorado em Filosofia (Estética) pela Faculdade de Filosofia da Universidade de Barcelona e licenciado em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Entre as exposições, destacam-se as individuais Jardin des Oiseaux (CAAA, Guimarães, 2025), Jardin des Oiseaux — uma primeira constelação deste jardim de pássaros (DuplaCena77, Lisboa, 2024) e L’éternité par les astres (Sismógrafo, Porto, 2019). Participou nas coletivas Anuário 19 (Galeria Municipal do Porto, 2020) e Não é ainda o mar (Sismógrafo, 2018). Faz parte da equipa do Sismógrafo desde 2020, sendo o curador do ciclo de conferências Imagens de Pensamento, editor e tradutor dos cadernos com o mesmo nome.
Espaços, fronteiras, carne e pele — contributo para uma ideia de corporização situada
Gabriela Vaz-Pinheiro
O objetivo da apresentação é procurar desmontar a noção do corpo como espaço confinado e entender a noção de fronteira como algo que apenas existe porque ativado pelos corpos que se movem. Irit Rogoff diz que fronteira é a própria passagem e é nas formas de limitar o seu atravessamento que a corporização situada adquire a forma da resistência. Será uma apresentação a partir de obras de artistas que, direta ou indiretamente, consubstanciam esta corporização no seu trabalho.
Gabriela Vaz-Pinheiro é formada em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e possui Doutoramento por projeto pelo Chelsea College. Lecionou na Central St. Martins College of Art & Design, em Londres, durante cerca de uma década. Expõe regularmente como artista em contextos diversos dentro e fora de Portugal. Tem realizado trabalho curatorial com várias coleções institucionais e também em contextos expositivos alternativos, tendo sido responsável pelo Programa de Arte e Arquitetura de Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura. Possui atividade editorial regular, incluindo publicações de artista. Ensina desde 2004 na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde é Membro Integrado do i2ADS – Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade – e, desde 2007, dirige o Mestrado em Arte e Design para o Espaço Público. Os seus interesses dividem-se entre a prática artística, o ensino da arte, a investigação e a escrita crítica.
Cartografia para uma Biografia
Rossana Fonseca
Cartografia para uma Biografia constitui-se enquanto investigação artística que surgiu como um dos desdobramentos da tese de doutoramento Percepção, Tempo e Memória na Génese da Fotografia. Através de imagens em constante desrealização, de textos em permanente recombinação e de traços de percursos repetidos múltiplas vezes, pretende-se delinear uma cartografia anacrónica onde o tempo deixa de ser sucessão e linearidade para se tornar fragmento, suspensão, intervalo. A articulação entre texto e imagem constitui o eixo deste processo — não como ilustração mútua, mas como trama onde ambas se tornam superfícies sensíveis nas quais o tempo parece materializar-se, e onde conceito e imagem se entretecem, deslocam, completam ou resistem uma à outra. Neste território indefinido entre o ver e o ler, entre o fazer imagem e o escrever, ensaia-se uma linguagem própria que explora a plasticidade do texto e a materialidade da fotografia como espaços simultâneos de inscrição e apagamento.
Rossana Mendes Fonseca é artista visual, curadora e investigadora. Doutorada em Arte Contemporânea pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, estudou Fotografia na Spéos Paris International School of Photography e obteve o Mestrado em Estudos Artísticos – Teoria e Crítica de Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. O seu trabalho emerge do diálogo entre imagem e pensamento, desdobrando-se no campo expandido da fotografia como um ensaio inelutável sobre tempo, perceção e memória. Enquanto curadora, dedica-se a manifestações artísticas emergentes e desenvolve o seu trabalho sobretudo na CRU Creative Hub, onde já programou e produziu mais de 40 exposições. Integra o grupo de investigação Estética, Política e Conhecimento do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, leciona e escreve sobre cultura visual, estética e imagem técnica.
Fazer o quê? Dúvidas sobre ação e política nas artes performativas contemporâneas
Jorge Palinhos
Desde Piscator que o teatro abraçou uma reivindicação de arte política. Esta nunca tinha andado longe do teatro — forma artística cuja dependência de público e autoridades sempre o colocara na infeliz situação de ser um exíguo espaço de imaginação entre condições e preocupações sociais. Mas o século XX tornou-o continuação da política por outros meios, e o século XXI último espaço de liberdade de minorias. Nesta breve apresentação, reflito sobre como a linguagem e o ato podem ainda ser a potência das artes performativas num tempo de distração maciça.
Jorge Palinhos é escritor e investigador. As suas obras já foram apresentadas e/ou editadas em Portugal, Brasil, Espanha, Estados Unidos da América, França, Grécia, Países Baixos, Bélgica, Alemanha, Suíça e Sérvia. Foi galardoado com o Prémio Miguel Rovisco (2003) e o Prémio Manuel Deniz-Jacinto (2007), e esteve na short-list do Prémio Luso-Brasileiro de Teatro António José da Silva (2011). Em 2024, a sua obra Um Pai foi distinguida pela Rede Eurodram. É doutorado em Estudos Culturais, com uma tese sobre dramaturgia lusófona contemporânea. Foi dramaturgo e dramaturgista convidado na Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012, é membro fundador do coletivo AMANDA, dramaturgista da companhia belga Stand-up Tall e artista associado da companhia Visões Úteis. É investigador do Centro de Estudos Arnaldo Araújo, responsável pelo Grupo de Estudos em Artes Performativas, e diretor do curso de Teatro da Escola Superior Artística do Porto.