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PERFORMANCES NO CONTEMPORÂNEO - 3º Encontro

3ª Edição - 3º ENCONTRO

PERFORMANCES NO CONTEMPORÂNEO | 3ª EDIÇÃO

 

8 de fevereiro 2023 | 14h30 | Sala de Reuniões 1

Faculdade de Letras da Universidade do Porto 

 

3º ENCONTRO

Com Susana Camanho e Jorge Leandro Rosa

 

Habitando a possibilidade
Em torno à obra “Neste corpo não há poesia” de Bárbara Fonte

Susana Camanho 

 

“Neste corpo não há poesia” é o título de um vídeo realizado por Bárbara Fonte em 2020, uma obra constituída por 27 momentos ligados entre si pelo mesmo cenário, pelo mesmo corpo, ainda que transformado. O corpo mimetiza um mundo ora cruel ora cómico. Corpo que se torna coisa, cadáver. Corpo vivo, mas vulnerável, que dança, corre, pende e jaz. Nesta obra, a artista lembra-nos esse mundo louco da organização da vida e do trabalho, essa corrida desenfreada desencadeada pelo cálculo utilitarista que nos coarcta a fantasia. Além desse mundo louco, esta obra lembra-nos, através da aparência, o seu oposto. Os diferentes momentos aparecem não só como fragmentos da nossa própria existência, mas como alfabeto de um mundo possível. Partindo desta obra de Bárbara Fonte e quando já não parece haver novidade radical capaz de quebrar o círculo do eterno retorno, iremos pensar uma arte que nos mostra, no seu carácter de aparência, essa promessa de felicidade (promesse de bonheur), que nos falava Stendhal, tantas vezes quebrada. Autonomia e compromisso unem-se numa obra que nos lembra a nossa própria vulnerabilidade e volta à questão, tantas vezes levantada, da possibilidade da poesia, agora, num corpo sugado, esgotado, triturado: um corpo levado ao limite da sua resistência.

 

 

O desenho desfaz a exofobia

| Jorge Leandro Rosa

 

Não foi movido por um simples diletantismo que Nancy escreveu este Prazer no Desenho, como se o desenhista que há em nós fosse assim apaziguado. Mas também não o fez naquele desígnio a que tantas vezes atribuímos a escrita do filósofo. Trata-se aqui do «des/ígnio/enho», fórmula que, a nosso ver, persegue um intento ao mesmo tempo que o faz arder. Vertendo assim o «dess(e)in» nancyano, quisemos perseguir (exceder?) a linha do desejo que percorre todo o labor filosófico de Nancy. «O desenho designa a forma ou a ideia. Ele é pensamento designador, apresentador, mostrativo ou ostensivo. O que significa que ele não é pensamento "demonstrativo"» (p. 17). Enquanto a demonstração fecha no esquema, a mostração mostra a coisa no exterior, como formação que a identificação não pode alcançar ou deter. O desenho é a potência do exterior. Como a relação.

Há, em Nancy, uma recusa da exofobia que parece ter tomado o pensamento contemporâneo. «Já não há "exterior"», escreveram Negri e Hardt em 2000. O pensamento das redes, das ligações e interconexões de tudo, parece ter-se apoderado da filosofia, definindo o dehors como aquilo que está desde logo localizado e, portanto, circunscrito. Ora, a ontologia/política de Nancy fala da comunidade que revela «a minha existência fora de mim» (La Communauté désoeuvrée). Também o desenho é «o impulso de um ter-prazer-em-abrir-o-espaço» (Esboço do «Prefácio à edição portuguesa», p. 106).

 


 

Susana Camanho é doutorada em Filosofia (Estética), pela Faculdade de Filosofia da Universidade de Barcelona, e licenciada em Artes Plásticas – Pintura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. É, desde 2020, membro do Sismógrafo, um espaço independente do Porto, criado pela Associação Cultural Salto no Vazio, com um programa contínuo de exposições de artes visuais, envolvendo também a performance, a música experimental e a literatura (http://www.sismografo.org). É curadora do ciclo de conferências “Imagens de Pensamento”, organizado pelo Sismógrafo desde 2020. É docente na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

 

Jorge Leandro Rosa é doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Nova de Lisboa. Foi professor do ensino secundário e superior. Escreveu crítica literária em jornais como «O Independente» e «Público». É ensaísta, com dezenas de publicações em diversos domínios. É tradutor de Jacques Rancière, Didi-Huberman, Jean-Luc Nancy, Michel Henry, E. Coccia, Ivan Illich, John Berger, entre outros.

 

https://ifilosofia.up.pt/activities/3o-encontro-performances-no-contemporaneo-3a-edicao

 

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